quarta-feira, 28 de maio de 2008

Os Povos Unidos Podem Ganhar a Paz

OS POVOS UNIDOS PODEM GANHAR A PAZ!

Amigos e Companheiros

O 40º aniversário da grande vitória das forças democráticas sobre o nazi-fascismo tem sido comemorado em todo o mundo, muito especialmente nos países que mais sofreram com a guerra, nos países onde é mais forte o movimento de opinião em defesa da paz.

No nosso país, tais comemorações têm revestido as mais diversas formas: concentrações, desfiles, jantares de confraternização, recitais, exibições de filmes, etc. Esta reunião em que tenho o prazer de participar, promovida pelos defensores da paz de Vila da Feira, constitui mais uma prova clara de que também aqui se está disposto a lutar pela paz entre os povos.

Nós, portugueses, se bem que não tivéssemos participado directamente nas operações militares da 2ª Grande Guerra, sofremos também muitas das suas consequências, consequências que foram agravadas pela circunstância de o poder, no nosso país, ser exercido por um governo fascista, fortemente comprometido na destruição criminosa e sangrenta da República Espanhola e na instalação de um governo fascista no país vizinho.

Durante dezenas de anos, vivemos como se o solo da nossa Pátria estivesse sob ocupação estrangeira, sem, no entanto, podermos tratar como ocupantes estrangeiros, aqueles que então detinham o poder.

Tal como aconteceu com os povos que, durante a 2ª a Grande Guerra, viveram sob a ocupação fascista, também nós não tínhamos liberdade para discutir publicamente os problemas nacionais, era-nos negado o direito de escolher os governantes, era-nos negado o direito de escolher os governantes, éramos perseguidos por nos manifestarmos a favor da realização de eleições livres, éramos, quantas vezes lançados para os cárceres fascistas, por soltar um simples “Viva a República!”, por ouvir uma estação de rádio antifascista, por protestarmos contra a censura à imprensa, por afirmarmos publicamente a nossa solidariedade aos patriotas que lutavam pelas liberdades democráticas, por reclamarmos a extinção do campo de concentração do Tarrafal, por nos manifestarmos a favor da amnistia aos presos políticos. Éramos presos, processados, julgados e condenados, nos tribunais fascistas, por defendermos a autodeterminação dos povos, por, de alguma forma, nos manifestarmos a favor da paz.

Houve quem fosse condenado em medidas de segurança, com internamentos por períodos de 1 a 3 anos, simplesmente por ter escrito numa parede a palavra “paz”.

Um dos mais destacados dirigentes do Movimento da Paz, Silas Cerqueira, foi preso, pelo simples facto de colocar um ramo de flores no monumento aos mortos da 1ª Guerra Mundial, na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Houve quem fosse violentamente agredido pela pide e por forças militarizadas, por cantar publicamente, em grupo, o Hino Nacional.

Esta situação, para nós, portugueses, não acabou quando acabou a 2ª Grande Guerra. Esta situação prolongou-se ainda por 29 anos após o termo da guerra, prolongou-se até à alvorada libertadora do 25 de Abril, quando os gloriosos Capitães de Abril e o Povo Português escorraçaram o fascismo do poder.

Por tudo isto, e ainda porque os governos fascistas de Salazar e Caetano, ao serviço do capital monopolista, nos envolveram em longas guerras coloniais em África, nós, portugueses, sentimo-nos solidários com os povos africanos em luta pela sua independência, sentimo-nos irmanados com todos os povos vítimas da guerra. Comemoramos a derrota da Alemanha nazi, já que essa derrota é uma vitória de todos os perseguidos pelo fascismo, é também uma vitória nossa, é uma vitória dos partidários da paz.

Amigos!

Permitam-me que lhes recorde o que podemos chamar trágico balanço do crime fascista que consistiu em provocar e desencadear a 2ª Grande Guerra: foram 50 milhões de mortos, cabendo 20 milhões à União Soviética, mais de 6 milhões à polónia, mais de 6 milhões à Alemanha, 1 milhão e 700 000 à Jugoslávia, 600 000 à França, 400 000 aos Estados Unidos da América, 375 000 à Grã-Bretanha. Foram 11 milhões de mortos nos campos de concentração, nas prisões fascistas e noutros locais de extermínio.

Durante os 12 anos que os fascistas ocuparam o poder na Alemanha, dos 300 000 membros do Partido Comunista Alemão, foram assassinados cerca de 30 000; cerca de 150 mil foram presos, perseguidos ou forçados à emigração.

Estes números dão-nos uma ideia do que a guerra significou no que se refere à perda de vidas humanas na Europa.

Foi certamente com o propósito de evitar que pudesse eclodir nova guerra na Europa, que na conferência de dirigentes dês três grandes potências aliadas – Estados Unidos da América, Grã-Bretanha e União Soviética – celebrada, na Crimeia, de 4 a 12 de Fevereiro de 1945, resolveram publicar a seguinte informação:

«É nossa vontade inabalável destruir o militarismo alemão e o nacional-socialismo, actuando para que a Alemanha nunca mais seja capaz de perturbar a paz mundial. Estamos a desarmar e dissolver todas as forças armadas alemãs; a destruir uma vez por todas o Estado-Maior general alemão que repetidas vezes restabeleceu o militarismo alemão; a neutralizar ou destruir todas as instalações militares alemãs; a eliminar ou pôr sob controlo toda a indústria alemã que possa eventualmente ser utilizada para produção militar; a apresentar os criminosos de guerra ao tribunal e castigá-los, promovendo ao mesmo tempo a reparação de todos os danos causados pelo alemães, a abolir o partido nacional-socialista, as leis, as organizações e instituições nacional socialistas, eliminando das repartições públicas, assim como da vida cultural e económica da nação, todas as influências nacional-socialistas e militaristas e ordenando a tomada de medidas necessárias para a paz futura e a segurança mundial.»

E acrescentava ainda a informação então publicada:

«Não temos a intenção de aniquilar o povo alemão, mas só quando o nacional-socialismo e o militarismo forem extirpados, existirá para os alemães a esperança de umavida digna e de um lugar no seio da comunidade dos povos.»

Muitas outras resoluções de grande importância para a derrota do nazismo e ocupação da Alemanha após a sua rendição incondicional, foram tomadas na Conferência da Crimeia. Em Julho – Agosto do mesmo ano de 1945, na Conferência de Potsdam, os dirigentes das três grandes potências publicaram a seguinte informação:

«Este acordo tem como finalidade promover a realização da declaração da Crimeia, na Alemanha. O militarismo e o nazismo alemães são extirpados, tomando os aliados as medidas conjuntas que se revelarem necessárias para que a Alemanha nunca mais possa ameaçar a manutenção da paz mundial.

Os aliados não têm a intenção de exterminar ou escravizar o povo alemão. Os aliados querem dar à nação alemã a possibilidade de se preparar para a reconstrução da sua vida numa base democrática e pacífica. Se os próprios esforços do povo alemão forem dirigidos inabalavelmente neste fim, ser-lhe-á possível ocupar, na devida altura, o lugar a que tem direito entre os povos livres e pacíficos do mundo.»

Apesar das resoluções tomadas, na Conferência da Crimeia e na Conferência de Potsdam, para exterminar o nazismo e o militarismo alemão, evidenciada pela rendição incondicional da Alemanha nazi, não é verdade que o militarismo alemão tenha sido definitivamente exterminado. O militarismo actual é produto das sociedades onde impera a ideia de lucro, onde ainda não foi eliminada a exploração do homem pelo homem. A iniciativa do governo dos Estados Unidos de patrocinar a formação do Pacto do Atlântico e a entrada da Alemanha Ocidental para esse Pacto, a protecção dispensada a criminosos nazis, o aproveitamento de quadros nazis para postos de comando na organização das forças armadas, a manutenção de focos de militarismo, os incentivos ao rearmamento geral e, es especial, ao rearmamento da Alemanha Ocidental (onde não cumpridas as resoluções relativas à desnazificação), constituem grosseiras violações dos acordos da Crimeia e de Potsdam, grosseiras violações de compromissos livremente assumidos. Tais violações lançam a inquietação em todo o mundo e forçam outros países a rearmar-se também, a fim de se defenderem de ma eventual agressão, queimando, no fabrico e aquisição de armas, verbas astronómicas, que deviam ser destinadas à solução dos problemas da fome, da educação, da saúde, ao problema da elevação do nível de vida de tantos milhões de seres humanos.

A corrida aos armamentos e, em especial, à produção de armas nucleares, confrontada com os 50 milhões de vidas humanas perdidas durante a última Grande Guerra, confrontada com os milhões e milhões de seres humanos que, sobretudo na África, na Ásia e na América Latina, morrem ou correm o risco de morrer de fome, constitui um crime contra humanidade. O único governo que, até hoje, teve a crueldade de usar armas atómicas contra seres humanos foi, como se sabe, o governo dos Estados Unidos, que em 6 de Agosto de 1945, ordenou o lançamento de uma bomba atómica contra o povo de Hiroxima e, no dia 11 de Agosto, ordenou o lançamento de outra bomba atómica contra o povo de Nagasáqui. Estas duas bombas atómicas provocaram um total de cerca 130 000 mortos e 70 000 feridos, além de destruições sem conta.

Ora, as armas nucleares que actualmente são fabricadas, pelo que respeita à capacidade de destruição, deixam a perder de vista as bombas atómicas contra o povo de Hiroxima e contra o povo de Nagasáqui.

A corrida aos armamentos fomenta naturalmente o militarismo.

O militarismo actualmente, produto das sociedades onde impera o lucro, é, por natureza, profundamente reaccionário e tende a dominar as actividades essenciais dessas mesmas sociedades, sendo, por isso mesmo, uma ameaça muito grave para toda a humanidade.

Assiste-se, desde há alguns anos, à militarização da ciência no campo do imperialismo. Não é por necessidades científicas, por necessidades decorrentes do próprio desenvolvimento científico, ou mesmo técnico, que se procede à militarização da ciência. Procede-se à militarização da ciência, para orientar as descobertas científicas no sentido da produção de armas cada vez mais destruidoras de vidas humanas e dos bens que os homens criaram com o seu trabalho. Colocar a ciência ao serviço da destruição e da morte, e não ao seviço da vida e do bem-estar da humanidade, é uma perversão da ciência, contra a qual os trabalhadores, em todo o mundo, não podem deixar de elevar o seu protesto e unir os seus esforços.

Na preparação da 2ª Grande Guerra, os nazis procuraram criar, nos soldados alemães, sentimentos de crueldade, de insensibilidade em face do sofrimento dos outros. Numa das instruções difundidas entre os soldados nazis em guerra na União Soviética, recomendava-se o seguinte:

«Tu não tens coração nem nervos; eles são inúteis para a guerra. Suprime em ti toda a piedade e toda a compaixão; mata todos os russos, todos os soviéticos; não poupes nem velho, nem mulher, nem rapariga, nem rapaz; mata, tu evitarás assim a morte, tu assegurarás o futuro da tua família e tu te cobrirás de glória para sempre.»

As aberrações como esta, sob o aspecto educativo, conduziu o militarismo nazi!

O militarismo actual não conduz a aberrações menores. Ainda há poucos anos, o assessor, para questões de segurança, do então presidente dos Estados Unidos da América, o secretário Brzezinski, declarou tranquilamente que, no caso de se desencadear uma guerra atómica mundial, seriam exterminados «apenas dez por cento» da população da Terra. Quer dizer, na opinião de Brzezinski, uma guerra atómica mundial «apenas» mataria algo como 400 milhões de pessoas, isto é, mais de oito vezes mais que a totalidade dos mortos da 2ª Grande Guerra Mundial!

A aberração de Brzezinski, embora mostre até que ponto vai a sua insensibilidade em face da hipótese de uma guerra atómica mundial, fica no entanto, aquém da realidade no que respeita à perda de vidas humanas, porque os arsenais nucleares existentes são suficientes para destruir toda a vida na Terra!

Por isso, defender a paz é defender a vida e defender a vida é defender a paz!

Precisamos de ter sempre presente que, numa sociedade em que impera a ideia do lucro, numa sociedade governada pelo capital monopolista, numa sociedade de consumo, as armas produzidas destinam-se a serem usadas e substituídas por outras armas, a fim de cumprirem a função de dar lucro aos fabricantes e negociantes de armas. Não é verdade aquilo que os governos comprometidos na corrida aos armamentos dizem aos povos: que as armas produzidas não são para serem usadas …

As armas produzidas, que ainda não foram usadas, poderão vir a sê-lo, se a luta popular contra a guerra não impedir os fabricantes e negociantes de armas, ao serviço do capital monopolista, de desencadear aquela que seria a mais sangrenta das guerras.

Os povos unidos podem ganhar a paz!

Se a luta popular contra a guerra não conseguiu evitar as guerras empreendidas pelo imperialismo e pelo colonialismo na Coreia, no Vietnam, nas antigas colónias africanas e noutros lugares do globo, a verdade é que a luta dos povos contra a guerra conseguiu que, durante os últimos 40 anos se evitasse a eclosão de uma guerra na Europa, conseguiu que não fossem usadas armas atómicas nas guerras que não conseguiu evitar, conseguiu manifestar a sua solidariedade activa com os povos vítimas de agressão e, desta forma, contribuiu para fortalecer a resistência dos agredidos e para a derrota dos agressores.

A 2ª Grande Guerra mostrou que, apesar de todas as dificuldades surgidas entre as potências aliadas – Estados Unidos da América, França, Grã-Bretanha e União Soviética – foi possível estabelecer uma colaboração activa e eficaz, que conduziu à rendição incondicional do inimigo comum; Mostrou que é possível estabelecer uma colaboração activa e eficaz entre Estados muito diferentes no diz respeito à sua organização político-social, à sua ideologia, aos seus costumes e tradições e que tal colaboração impôs aos agressores clamorosa derrota!

Por isso mesmo, com toda a convicção afirmamos que

OS POVOS UNIDOS PODEM GANHAR A PAZ!

Aqui formulamos os nossos melhores votos de que tenham pleno êxito as negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética, no interesse da paz e da cooperação entre os povos.

Reclamamos contra a produção de armas nucleares!

Exigimos que sejam tomadas medidas conducentes ao desarmamento geral e fiscalizado!

Entretanto, afirmamos a nossa inteira solidariedade com o heróico povo da Nicarágua e com todos os outros povos ameaçados de agressão!

VIVA A PAZ E A COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS!

Lourosa – Vila da Feira

22 – 6 – 1985

José Morgado

segunda-feira, 19 de maio de 2008

sexta-feira, 16 de maio de 2008

José Morgado e Pereira Gomes

Almoço de confraternização durante a homenagem prestada aos professores portugueses no Recife. Do lado esquerdo: Pereira Gomes, Pelópidas Silveiro; à direita: Marilú Silveira, Maria Helena Novais. Em frente: José Morgado

Ruy Luís Gomes, José Morgado e Zé Maria Albuquerque


Zé Maria Albuquerque era um entusiasta defensor do património cultural do Nordeste brasileiro. Penso que era Professor na Faculdade de Arquitectura de Recife. Organizava várias excursões para divulgação do património nordestino.

Matemáticos em Recife

Recife em 19 de Fevereiro de 1963

Da esquerda para a direita:

José Morgado
Ruy Luís Gomes
Theophilo Vasconcelos
Ivan Loureiro
Zaluar Nunes
Sixto Rios
?????
Maria Helena
Rivaldo
Múcio

domingo, 11 de maio de 2008

Homenagem à Resistência Antifascista

HOMENAGEM À RESISTÊNCIA ANTIFASCISTA

Amigos e Companheiros

Estamos aqui reunidos, por ocasião do décimo primeiro aniversário da Revolução dos Cravos, junto ao edifício que serviu de sede à pide no Porto, para prestar homenagem à Resistência Antifascista.

Lembramos, neste momento, os democratas que aqui estiveram presos; lembramos os companheiros que estiveram encarcerados em qualquer das prisões fascistas do nosso país; lembramos todos os antifascistas que foram deportados para o Campo de Concentração do Tarrafal; lembramos todos os que foram torturados pela pide; lembramos todos os que, nas prisões ou fora delas, perderam a vida para nós vivêssemos, perderam a vida na luta contra o fascismo.

Lembramos também aqueles Amigos que, ainda vivos ou já mortos, sempre lutaram pelas Liberdades Democráticas, pela elevação do nível de vida do Povo português, pela Independência Nacional e pela paz e Cooperação entre os Povos.

Uma homenagem à Resistência Antifascista portuguesa não pode deixar de lembrar a resistência nos Países que foram vítimas da agressão dos exércitos nazi-fascistas, não pode deixar de lembrar os que foram vítimas de guerras coloniais, assim como não pode deixar de lembrar os que ainda agora vivem em países dominados por forças fascistas, nem deixar de lembrar os que lutam contra a invasão do seu país por bandos fascistas, organizados e pagos pelo imperialismo.

Na verdade, onde quer que se encontre um resistente antifascista, - no Chile, ou na Turquia, ou na África do Sul, ou na Namíbia, ou em El Salvador, ou em Angola, ou em Moçambique – encontra-se, como sabemos, um participante na luta geral dos povos pela Liberdade e pela Paz.

Assim, uma homenagem à Resistência Antifascista Portuguesa inclui necessariamente uma palavra de respeito e admiração por aqueles que foram, no passado, vítimas de agressões fascistas e uma palavra de solidariedade militante com aqueles que, actualmente, em qualquer país do Mundo, resistem à agressão por parte de forças ao serviço do imperialismo.

Uma homenagem à resistência Antifascista Portuguesa não se faz apenas de recordações do passado, por mais emocionantes que tais recordações sejam – e são! Como antifascistas que somos, temos de procurar, na experiência do passado, alguma luz para a compreensão do presente e para renovar o nosso compromisso com o futuro.

*

Permitam-me, queridos amigos, que lhes leia, aqui e agora, um documento histórico. Trata-se do compromisso com o futuro, assumido por um notável grupo de resistentes antifascistas, ex-prisioneiros do Campo de Concentração de Buchenwald, que os nazis inauguraram, em 1937, na Alemanha Oriental. Após a sua libertação pelo exército soviético há precisamente 40 anos, em Abril de 1945, os ex-prisioneiros de Buchenwald publicaram um documento com a seguinte declaração:

«Nós, ex-presos de Buchenwald, russos, franceses, polacos, checos, eslovacos, alemães espanhóis italianos, austríacos, belgas, holandeses, ingleses, luxemburgueses, romenos, jugoslavos e húngaros, lutámos em conjunto contra as SS e os criminosos nazis, para conseguir a nossa libertação. Animou-nos uma ideia: a nossa causa é justa – a vitória será nossa. Realizámos em muitas línguas a mesma luta, dura e cheia de vítimas. E esta lusa ainda não terminou …

Por esta razão nós juramos, perante todo o mundo, nesta praça de humilhação, neste lugar de crueldade fascista: somente paramos com a nossa luta quando o último culpado for apresentado perante os juízes dos povos!

Construir um mundo novo de paz e liberdade, ele o nosso objectivo!

É este o nosso dever perante as vítimas e os seus parentes.»

É muito semelhante a este o nosso compromisso de antifascistas portugueses. Tal compromisso está claramente expresso na Constituição da República Portuguesa, que, no seu Preâmbulo, declara «A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.»

No seu artigo 1º, a Constituição proclama: «Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na sua transformação numa sociedade sem classes.»

E, no seu artigo 2º, a Constituição determina: «A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no respeito e na garantia dos direitos e liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão e organização política democráticas, que tem por objectivo assegurar a transição para o socialismo mediante a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.»

Pelo que respeita à política externa, a Constituição ordena, no artigo 7º, nº 2, que: «Portugal preconiza a abolição de todas as formas de imperialismo, colonialismo e agressão, o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.»

*

Estas transcrições da Constituição que acabo de vos ler e que, de certo modo, exprimem o nosso compromisso de antifascistas portugueses com o futuro, mostram, queridos Amigos, quanto o nosso compromisso com o futuro está longe de poder ser considerado como cumprido; mostram, queridos Amigos, que temos de continuar unidos e fortalecer e ampliar a nossa unidade até que sejam uma realidade as promessas e esperanças consignadas na Constituição.

Com efeito, é uma triste verdade que temos à frente dos destinos do País um governo reaccionário, um governo comprometido com a contra – revolução, um governo onde pontificam alguns membros de governos fascistas, um governo que, na sua acção diária, atenta contra a letra e o espírito da Constituição da República.

Age contra a letra e o espírito da Constituição, nomeadamente contra os direitos e liberdades dos cidadãos, quando pretende impor ao País uma lei dita de segurança interna, de índole nitidamente fascista, indigna, portanto, do Portugal de Abril.

Age contra a letra e espírito da Constituição, quando, em vez de abrir caminho para a sociedade socialista, o seu chefe declara com arrogância que meteu o socialismo na gaveta, alguns dos seus ministros declaram impunemente que empresas públicas devem ser desmanteladas, o governo, no seu conjunto, atenta contra as nacionalizações, mobiliza forças militarizadas contra a reforma agrária, arranca as terras das UCP’s para as entregar aos antigos latifundiários e ignora as decisões do Supremo Tribunal Administrativo, quando são favoráveis às UCP’s.

Age contra a letra e o espírito da Constituição, ofendendo os direitos e liberdades dos trabalhadores, quando toma ou defende medidas que equivalem a negar, aos trabalhadores, o direito ao trabalho e a instituir, para o grande patronato, o direito ao despedimento de trabalhadores; quando, não só fica inerte perante o crime social do não pagamento de salários a quem trabalha, como se opõe, por intermédio de uma maioria dócil na Assembleia da República, às iniciativas que têm sido tomadas por alguns deputados para resolver o problema dos salários em atraso ou para minorar algumas das suas consequências mais gravosas.

Age contra a letra e o espírito da Constituição, quando em vez de preconizar a abolição de todas as formas de imperialismo, o desarmamento geral, simultâneo e controlado, e a dissolução dos blocos político-militares , se compromete, cada vez mais, com o imperialismo, cedendo-lhe mais facilidades em território nacional, endividando o País, cada vez mais, com o armamento, sujeitando os trabalhadores portugueses às conveniências do imperialismo, fomentando a propaganda do bloco político-militar do Pacto do Atlântico, permitindo que, em território nacional, sejam tomadas medidas contrárias ao bom relacionamento com os governos de Angola e Moçambique.

Age ainda contra a letra e o espírito da Constituição, quando desconsidera, marginaliza e persegue alguns Capitães de Abril.

Pois bem; nós, que aqui viemos para prestar homenagem à Resistência Antifascista, jamais pactuaremos com os que conspiram ou agem contra a Revolução de Abril.

Jamais pactuaremos com os que, dizendo-se, embora, socialistas, conduzem a política mais ferozmente anti-socialista que até hoje foi seguida por qualquer governo após o 25 de Abril.

Jamais pactuaremos com quem pretende destruir as nacionalizações, com quem pretende desmantelar as empresas públicas, com quem pretende liquidar a reforma agrária.

Jamais pactuaremos com os que, na sua acção política, se tornaram delinquentes habituais contra a Constituição da República.

Por isso, de braços abertos a todos os resistentes antifascistas, defendemos a demissão, quanto antes, do governo que aí está e defendemos a responsabilização dos seus membros pelos delitos que tenham praticado contra os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, contra a independência nacional e contra a economia nacional.

Defendemos a dissolução da Assembleia da República e a consequente realização de eleições legislativas antecipadas.

Defendemos a formação de um governo de unidade antifascista que dê garantias de respeitar a Constituição da República.

Só apoiaremos a candidatura à Presidência da República de alguém com credibilidade política que dê garantias de respeitar e continuar Abril.

VIVA O 25 DE ABRIL! VIVAM OS CAPITÃES DE ABRIL!

25 DE ABRIL SEMPRE! FASCISMO NUNCA MAIS!

José Morgado,

Porto, junto à antiga sede da pide,

25 de Abril de 1985

quinta-feira, 8 de maio de 2008

GUERRA NUNCA MAIS!

GUERRA NUNCA MAIS!

No dia 8 de Maio de 1945, às 23 horas e 1 minuto (hora da Europa Ocidental) terminou, na Europa, a 2ª Grande Guerra. Nesse dia e nessa hora, perante o marechal soviético Zukov e o marechal britânico Tedder, na presença do general francês Lattre de Tassigny e o general americano Spaatz, os representantes do alto comando do exército hitleriano, marechal de campo Keitel, coronel-general Stumpff e almirante-general von friedeburg, assinaram o documento de rendição incondicional da Alemanha nazi.

Na conferência da Crimeia, realizada em 11 de Fevereiro de 1945, os dirigentes das Nações aliadas Grã-Bretanha, Estados unidos da América e União Soviética, resolveram declarar:

«É nossa vontade inabalável destruir o militarismo alemão e o nacional-socialismo, actuando para que a Alemanha nunca mais seja capaz de perturbar a paz mundial. Estamos dispostos a desarmar e dissolver todas as forças armadas alemãs; a destruir uma vez por todas o Estado-Maior general alemão que repetidas vezes reestabeleceu o militarismo alemão; (…) a apresentar os criminosos de guerra ao tribunal e castigá-los, promovendo ao mesmo tempo a reparação de todos os danos causados pelos alemães; a abolir o partido nacional-socialista, as leis, as organizações e instituições nacional-socialistas, eliminando das repartições públicas, assim como da vida cultural e económica da nação alemã, todas as influências nacional-socialistas e militaristas e ordenando a tomada de medidas necessárias para a paz futura e a segurança mundial. Não temos a intenção de aniquilar o povo alemão, mas só quando o nacional-socialismo e o militarismo forem exterminados, existirá para os alemães a esperança de uma vida digna e dum lugar no meio da comunidade dos povos.»

Em face disto, é claro que a iniciativa, do governo dos Estados Unidos, de patrocinar a formação do Pacto do Atlântico e a entrada da Alemanha Ocidental para esse pacto, o rearmamento geral e, especialmente, o rearmamento da Alemanha Ocidental, o aproveitamento de quadros nazis para ocupar postos de comando na organização das forças armadas e manter focos de militarismo, constitui grosseira violação de obrigações livremente assumidas, que lança a inquietação em todo o mundo e obriga outros países a rearmar-se também, para se defenderem de uma eventual agressão.

O trágico balanço do crime fascista que consistiu em desencadear a 2ª Grande Guerra deve estar presente na mente de todos nós: 50 milhões de mortos, sendo 20 milhões de soviéticos, mais de 6 milhões de polacos, mais de milhão e meio de jugoslavos, 600 000 franceses, 400 000 mil americanos, 375 000 mil britânicos, 6 milhões de alemães, etc.

Este trágico balanço faz-nos pensar em como é criminosa qualquer orientação política que conduza a apoiar grupos ou governos fascistas em qualquer parte do mundo, em como é criminosa qualquer orientação política que conduza a provocar o rearmamento, nomeadamente a produção de armas nucleares.

O único governo que até hoje teve a crueldade suficiente para usar armas atómicas contra seres humanos, promovendo um holocausto atómico, foi o governo dos Estados Unidos. No dia 6 de Agosto de 1945, às 11 horas e 15 minutos (hora local) uma superfortaleza voadora americana lançou uma bomba atómica na cidade japonesa de Hiroxima e, no dia 9 de Agosto, às 11 horas e 2 minutos, outra superfortaleza voadora americana lançou outra bomba atómica sobre a cidade japonesa de Nagasáqui.

Estas duas bombas atómicas provocaram um total de cerca de 130 000 mortos e 70 000 feridos, além de destruições materiais como nunca antes se tinha visto.

Não voltou a ser usada a bomba atómica contra seres humanos, não porque os criminosos que ordenaram o seu uso se tivessem arrependido do crime que cometeram contra a humanidade, mas porque a isso se opôs o grande movimento mundial de massas pela paz e cooperação entre os povos. A bomba atómica e outras armas de destruição em massa não foram usadas pelos agressores americanos na Coreia nem no Vietnam, porque a isso se opuseram os povos unidos em defesa da paz, incluindo o povo americano, cuja luta contra a guerra, especialmente contra a guerra na Coreia e no Vietnam ficará inscrita, como exemplo, na memória dos povos!

Mas deve reconhecer-se que, não tendo podido usar novamente, contra seres humanos, armas atómicas ou nucleares, cujo poder destruidor deixa a perder de vista as bombas atómicas usadas contra o povo japonês em Hiroxima e Nagasáqui, a crueldade e insensibilidade da classe dos que, desde 1945, ameaçam o mundo com a destruição nuclear, não diminuíram, pelo contrário, actualmente são muito frequentes as ameaças nucleares proferidas por representantes da classe que detém o poder nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que investem muitos biliões de dólares no fabrico de engenhos nucleares, gastam também milhões e milhões de dólares na preparação de actos de subversão e preparação de quadros assassinos, por intermédio da CIA.

A falta de escrúpulos em promover o fabrico de brinquedos infantis que imitam asmas de guerra sofisticadas, em exibir filmes, alguns dos quais destinados a crianças, onde se imita a chamada “guerra das estrelas” (falta de escrúpulos só comparável à revelada pelo propósito do Sr. Reagan de, no quadragésimo aniversário do fim da guerra na Europa, ir prestar homenagem à memória dos criminosos das SS nazis) põe a nu o carácter belicista da orientação política seguida pela classe dominante de um país de tão gloriosas tradições de luta pela liberdade e pela paz!

Numa sociedade em que impera a ideia do lucro, as armas que são produzidas destinam-se a serem usadas e substituídas por outras armas, pois só assim cumprem a função de dar lucro, par que foram fabricadas.

Desta forma, quando um governo de uma sociedade em que impera a ideia do lucro diz que produz armas para não serem usadas, tal governo sabe que está mentindo, sabe que produzir armas para não serem usadas, está em contradição com o tipo de sociedade em que elas são produzidas.

É preciso acabar com tal mentira!

A defesa de uma política de paz reclama o desarmamento, reclama a reconversão da indústria do armamento em indústrias que visem a elevação do nível de vida do povo, em indústrias destinadas a facilitar o trabalho humano, a proporcionar tempos livres que possam ser utilizados para recreação e elevação do nível cultural do povo.

O povo repele a hipocrisia e desonestidade de uma política que se diz de paz e prepara a guerra!

O povo quer uma política que se diga de paz e prepare a paz, uma política que se diga de paz e pratique o desarmamento, uma política que se diga de paz e utilize o dinheiro que se iria gastar em armas de destruição em massa, para resolver o problema da fome!

Contra a chantagem nuclear, contra a chamada “guerra das estrelas”, contra a instalação de mísseis na Europa e em todo o mundo, contra a instalação de bases militares, defendemos a realização de negociações que abram caminho ao desarmamento e cooperação entre os estados!

O problema da paz diz respeito a todos nós!

A 39ª Assembleia Geral das Nações Unidas, por proposta da República Democrática Alemã, aprovou uma resolução que declara os dias 8 e 9 de Maio dias de luta contra o fascismo.

Por ocasião do 40º aniversário do fim da guerra na Europa, a Associação Portugal-URSS saúda todos os partidários da paz portugueses e todos os partidários da paz soviéticos e formula os seus melhores votos de que as próximas negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética tenham o melhor êxito no interesse da paz e cooperação entre os povos.

Os milhões de vidas humanas que se perderam em consequência da última guerra mundial, os sofrimentos de tantos milhões de seres humanos perseguidos e vitimados pelos fascistas, a salvaguarda da vida da Humanidade ameaçada pelo holocausto nuclear, exigem de todos nós

UNIDADE DE ACÇÃO EM DEFESA DA PAZ!

FASCISMO NUNCA MAIS!

GUERRA NUNCA MAIS!

VIVA A PAZ E COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS!

Porto, 2 de Maio de 1985

O Conselho Distrital do Porto

Da Associação Portugal - URSS

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Matemáticos dos anos 40


Da esquerda para a direita: Hugo Ribeiro, José Morgado, Zaluar Nunes, Pereira Gomes, José Silva Paulo e Benvindo Reis