Francisco Gomes Teixeira, filho de Maria Madalena Machado e Manuel Gomes Teixeira, nasceu em 28 de Janeiro de 1851, em S.Cosmado, concelho de Armamar, distrito de Viseu. Teve dois irmãos: Pedro, que foi engenheiro militar e Sebastião, que foi, como seu pai, comerciante em S. Cosmado. Francisco Gomes Teixeira casou com Ana Arminda e este casal teve três filhas: Helena Meira, Berta Machado e Maria Vitória. Berta e Maria foram professoras de Matemática. A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira informa que «seus pais destinavam-no primitivamente ao sacerdócio e, com esse fim, estudou primeiro na sua terra natal e depois no Liceu de Lamego; ao cabo de algum tempo, porém, um seu parente, Dr. Francisco Maria de Carvalho, médico, aconselhou os seus pais a aproveitarem as suas tendências para a ciência dos números, desde muito cedo revelada. Consultado o jovem Francisco mostrou-se hesitante, ou melhor, indiferente, entre seguir a carreira eclesiástica ou a matemática, pelo que seu pai resolveu recorrer às sortes, para a resolução do caso. A Matemática venceu a Teologia e matriculou-se Francisco Gomes Teixeira matriculou-se em Matemática na respectiva Faculdade da Universidade de Coimbra, em 1869.
Fez um curso brilhantíssimo, concluindo a formatura em 1874 com a classificação de 20 valores e doutorou-se em Matemática em 18 de Julho de 1875.» O livro do professor universitário e escritor Henrique Jardim de Vilhena (1879 -1958), intitulado O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira, menciona mais de 280 trabalhos de Gomes Teixeira, nos quais mais de 140 são de investigação. O primeiro destes trabalhos, Desenvolvimento das funções em fracções contínuas, foi elaborado em 1871, quando era ainda estudante.
Gomes Teixeira teve sempre a preocupação, não só de investigar, mas também de divulgar matemática. Em 1877 fundou o Jornal de Ciências Matemáticas e Astronómicas (cuja direcção assumiu) jornal que foi incorporado desde 1905 nos Anais Científicos da Academia Politécnica do Porto, intitulado desde 1929 Anais da Faculdade de Ciências do Porto, cuja direcção manteve até 1932.
Como se sabe, o físico francês Louis de Broglie (1892 - 1987), prémio Nobel da Física, num discurso proferido em 10 de Setembro de 1959, (...) achou por bem utilizar a seguinte afirmação do filósofo francês Charles Péguy (1873 - 1914) feita já cerca de meio século antes:
«Não há nada tão contrário às funções da Ciência como as funções do ensino, visto que as funções da Ciência exigem uma perpétua inquietação, enquanto que as funções de ensino exigem uma segurança imperturbável »
Louis de Broglie não se limitou a transcrever a afirmação do filósofo Charles Péguy - apoiou tal afirmação, quando proclamou que
«A investigação comporta necessariamente uma perpétua inquietação, o ensino tende por si próprio para uma segurança imperturbável que é o oposto da inquietação. É isto que Charles Péguy tinha impresso com clareza e muita sagacidade na frase que me serviu de tema»
Ora, uma coisa é um dado investigador não gostar de exercer funções docentes e outra coisa muito diferente é proclamar que entre a investigação e o ensino há uma oposição inelutável.
Por exemplo, o grande matemático Carl Friedrich Gauss não gostava do ensino; ele mesmo declarou
«Minha aversão ao ensino é facto consumado; a perene tarefa do professor de matemática, em rigor, resume-se ao ensino do ABC da sua ciência.» (Ver "A Magia dos Números" de Paul Karlson, p. 201)
No entanto, Gauss não proclamou a existência de uma oposição invencível entre investigação e ensino.
A vida e obra de Gomes Teixeira constituem, sem dúvida, um desmentido `afirmação de Charles Péguy sobre a existência de uma oposição invencível entre ensino e investigação. De facto, Gomes Teixeira foi considerado o primeiro matemático da Península Ibérica, no seu tempo, em consequência dos seus trabalhos de investigação e foi considerado também um grande professor, como assinalou Duarte Leite no artigo que publicou nos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, vol. XVIII, pp 193 - 207, em 8 de Fevereiro de 1934, precisamente um ano após o falecimento de Gomes Teixeira.
Duarte Leite foi professor durante vários anos na Academia Politécnica do Porto e, a partir de 1911, na Faculdade de Ciências do Porto. Tinha-se formado nas Faculdade de Matemática e de Filosofia da Universidade de Coimbra (1885); foi diplomata (embaixador de Portugal no Rio de Janeiro de 1914 a 1931) e foi também historiador, tendo escrito "OS falsos precursores de Cabral" e vários trabalhos sobre os descobrimentos, que foram postumamente incluídos em "História dos Descobrimentos", 2 volumes, 1955 - 1962.
O livro intitulado Faculdade de Ciências do Porto, publicado em 1969, dá os títulos de 26 trabalhos de Duarte Leite, incluindo 4 relativos aos descobrimentos.
No artigo que escreveu sobre Gomes Teixeira, Duarte Leite, afirma o seguinte:
«Isento de severidade na avaliação das provas escolares, sempre tem presente o preceito pedagógico de estimular a curiosidade e o interesse do discípulo. Isto pode testemunhar a minha experiência pessoal e a de vários outros, que ele animou, como a mim, aos primeiros ensaios matemáticos. Tinha o amor da sua profissão que exerceu com proficiência e elevação, temperando com bondade natural a frieza necessária ao juiz; e dest'arte soube ganhar não só a admiração, como o respeito e a estima de gerações que receberam suas lições e o influxo do seu saber.
Foi o ensino que mostrou a bússula que o norteou nas suas pesquisas no campo da análise, à qual consagrou 30 anos de incessante produção.»
Fez um curso brilhantíssimo, concluindo a formatura em 1874 com a classificação de 20 valores e doutorou-se em Matemática em 18 de Julho de 1875.» O livro do professor universitário e escritor Henrique Jardim de Vilhena (1879 -1958), intitulado O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira, menciona mais de 280 trabalhos de Gomes Teixeira, nos quais mais de 140 são de investigação. O primeiro destes trabalhos, Desenvolvimento das funções em fracções contínuas, foi elaborado em 1871, quando era ainda estudante.
Gomes Teixeira teve sempre a preocupação, não só de investigar, mas também de divulgar matemática. Em 1877 fundou o Jornal de Ciências Matemáticas e Astronómicas (cuja direcção assumiu) jornal que foi incorporado desde 1905 nos Anais Científicos da Academia Politécnica do Porto, intitulado desde 1929 Anais da Faculdade de Ciências do Porto, cuja direcção manteve até 1932.
Como se sabe, o físico francês Louis de Broglie (1892 - 1987), prémio Nobel da Física, num discurso proferido em 10 de Setembro de 1959, (...) achou por bem utilizar a seguinte afirmação do filósofo francês Charles Péguy (1873 - 1914) feita já cerca de meio século antes:
«Não há nada tão contrário às funções da Ciência como as funções do ensino, visto que as funções da Ciência exigem uma perpétua inquietação, enquanto que as funções de ensino exigem uma segurança imperturbável »
Louis de Broglie não se limitou a transcrever a afirmação do filósofo Charles Péguy - apoiou tal afirmação, quando proclamou que
«A investigação comporta necessariamente uma perpétua inquietação, o ensino tende por si próprio para uma segurança imperturbável que é o oposto da inquietação. É isto que Charles Péguy tinha impresso com clareza e muita sagacidade na frase que me serviu de tema»
Ora, uma coisa é um dado investigador não gostar de exercer funções docentes e outra coisa muito diferente é proclamar que entre a investigação e o ensino há uma oposição inelutável.
Por exemplo, o grande matemático Carl Friedrich Gauss não gostava do ensino; ele mesmo declarou
«Minha aversão ao ensino é facto consumado; a perene tarefa do professor de matemática, em rigor, resume-se ao ensino do ABC da sua ciência.» (Ver "A Magia dos Números" de Paul Karlson, p. 201)
No entanto, Gauss não proclamou a existência de uma oposição invencível entre investigação e ensino.
A vida e obra de Gomes Teixeira constituem, sem dúvida, um desmentido `afirmação de Charles Péguy sobre a existência de uma oposição invencível entre ensino e investigação. De facto, Gomes Teixeira foi considerado o primeiro matemático da Península Ibérica, no seu tempo, em consequência dos seus trabalhos de investigação e foi considerado também um grande professor, como assinalou Duarte Leite no artigo que publicou nos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, vol. XVIII, pp 193 - 207, em 8 de Fevereiro de 1934, precisamente um ano após o falecimento de Gomes Teixeira.
Duarte Leite foi professor durante vários anos na Academia Politécnica do Porto e, a partir de 1911, na Faculdade de Ciências do Porto. Tinha-se formado nas Faculdade de Matemática e de Filosofia da Universidade de Coimbra (1885); foi diplomata (embaixador de Portugal no Rio de Janeiro de 1914 a 1931) e foi também historiador, tendo escrito "OS falsos precursores de Cabral" e vários trabalhos sobre os descobrimentos, que foram postumamente incluídos em "História dos Descobrimentos", 2 volumes, 1955 - 1962.
O livro intitulado Faculdade de Ciências do Porto, publicado em 1969, dá os títulos de 26 trabalhos de Duarte Leite, incluindo 4 relativos aos descobrimentos.
No artigo que escreveu sobre Gomes Teixeira, Duarte Leite, afirma o seguinte:
«Isento de severidade na avaliação das provas escolares, sempre tem presente o preceito pedagógico de estimular a curiosidade e o interesse do discípulo. Isto pode testemunhar a minha experiência pessoal e a de vários outros, que ele animou, como a mim, aos primeiros ensaios matemáticos. Tinha o amor da sua profissão que exerceu com proficiência e elevação, temperando com bondade natural a frieza necessária ao juiz; e dest'arte soube ganhar não só a admiração, como o respeito e a estima de gerações que receberam suas lições e o influxo do seu saber.
Foi o ensino que mostrou a bússula que o norteou nas suas pesquisas no campo da análise, à qual consagrou 30 anos de incessante produção.»
Estes seus trabalhos foram distribuídos, para efeitos de publicação, por nada menos de 46 revistas e colectâneas científicas, entre as de maior nome e mais difícil acesso, tais como: Journal de Liouville, nome pelo qual se tornou conhecido o Journal de Mathématiques Pures et Appliqueés, fundado em 1836 pelo matemático francês Joseph Liouville (1809 - 1882) e por ele dirigido até 1874 e onde ele publicou a maior parte dos trabalhos que elaborou sobre Teoria dos Números, Geometria e Física; o venerável Journal de Crelle, nome pelo qual ficou conhecido o Jounal für die reine und angewandte Mathematik (Jornal para a Matemática Pura e Aplicada) fundado em 1826 por August Leopold Crelle (1780 - 1855), em cujo primeiro número número são publicados 5 trabalhos de Abel e em cujo segundo número é publicado é publicado o trabalho de Abel que deu origem à teoria das funções duplamente periódicas; Acta Matemática fundado em Estocolmo por Miltag Leffler (1846 - 1927); o Quarterly Journal, cujo nome completo actual Quarterly Journal of Pure and Applied Mathematics, fundado em 1839 com o nome Cambridge Mathematical Journal, tornou-se Cambridge and Dublin Mathematical Journal, de 1846 a 1854 e, em 1855 tomou o nome completo acima indicado. Colaborou ainda nas publicações da Academia das Ciências de Lisboa, no Instituto de Coimbra e, até 1905, na revista que fundou, a que já nos referimos.
No artigo de Duarte Leite, pode ainda ler-se:
«A abundante e valiosa colaboração nas revistas matemáticas e as consequentes relações epistolares e pessoais trouxeram-lhe a satisfação de pertencer a mais de 15 corporações científicas de relêvo , de França, Itália, Alemanha, Bélgica, Espanha, Rússia, Techecoslováquia e de nações extra - europeias; assim de como conquistar os títulos de Doutor honoris causa pelas universidades de Madrid e de Toulouse e de membro honorário da Faculdade de Ciências de Lima [capital do Perú]»
Gomes Teixeira teve muitos outros títulos honoríficos, cargos importantes,condecorações e prémios, por exemplo: prémio D. Luis I, prémio, fora de concurso, da Academia das Ciências de Madrid, 1895; prémio da Academia de Ciências de Madrid, em concurso, 1990; prémio Binveut, de História das Ciências , da Academia das Ciências de Paris, 1917.
Para a concessão deste prémio foi decisivo o Relatório escrito de Paul Appell, em que sublinhou a alta importância da obra de Gomes Teixeira, nomeadamente o Tratado das Curvas Especiais Notáveis.
E o artigo de Duarte Leite termina assim:
«... a sua alma se imbuía de bondade efusiva, e não dava abrigo às baixesas da inveja e da maleficência. Teve o culto desinteressado da ciência. Por entre os triunfos que lhe valeram seus grandes talento e saber, vivem nas serenas alegrias do trabalho e do dever cumprido, confortado com o acatamento de seus concidadãos.
Foi um benemérito da pátria. Gloriemo-nos da sua obra, veneremos-lhe a memória, sigamos-lhe os nobres exemplos»
No artigo de Duarte Leite, pode ainda ler-se:
«A abundante e valiosa colaboração nas revistas matemáticas e as consequentes relações epistolares e pessoais trouxeram-lhe a satisfação de pertencer a mais de 15 corporações científicas de relêvo , de França, Itália, Alemanha, Bélgica, Espanha, Rússia, Techecoslováquia e de nações extra - europeias; assim de como conquistar os títulos de Doutor honoris causa pelas universidades de Madrid e de Toulouse e de membro honorário da Faculdade de Ciências de Lima [capital do Perú]»
Gomes Teixeira teve muitos outros títulos honoríficos, cargos importantes,condecorações e prémios, por exemplo: prémio D. Luis I, prémio, fora de concurso, da Academia das Ciências de Madrid, 1895; prémio da Academia de Ciências de Madrid, em concurso, 1990; prémio Binveut, de História das Ciências , da Academia das Ciências de Paris, 1917.
Para a concessão deste prémio foi decisivo o Relatório escrito de Paul Appell, em que sublinhou a alta importância da obra de Gomes Teixeira, nomeadamente o Tratado das Curvas Especiais Notáveis.
E o artigo de Duarte Leite termina assim:
«... a sua alma se imbuía de bondade efusiva, e não dava abrigo às baixesas da inveja e da maleficência. Teve o culto desinteressado da ciência. Por entre os triunfos que lhe valeram seus grandes talento e saber, vivem nas serenas alegrias do trabalho e do dever cumprido, confortado com o acatamento de seus concidadãos.
Foi um benemérito da pátria. Gloriemo-nos da sua obra, veneremos-lhe a memória, sigamos-lhe os nobres exemplos»
Porto, 10/02/00 José Morgado
Centro de Matemática
Universidade do Porto
Universidade do Porto
[NOTA. O manuscrito que disponho encontra-se em mal estado)