sexta-feira, 28 de março de 2008

Intervenção num Comício do PCP no Cine - Vitória




Intervenção no do PCP Comício de Rio Tinto no Cine–Vitória, 21–3-75


Nota: Este é Cine - Teatro Vitória em 1996, muito degradado,

Em 1951, o Senhor Jordão, proprietário do Cine Vitória,

enfrentou a ditadura

O poema é de Dário Bastos

Amigos!

Companheiros!

Numa sessão realizada aqui, neste Teatro, há quase 24 anos, correu sangue de democratas.

E porque, do sangue que correu, algum me pertencia, a nossa Amiga Eng.ª Virgínia Moura, nossa querida Companheira de tantas lutas contra o fascismo e contra o colonialismo, quis que eu estivesse presente neste comício. E quis, não só que estivesse presente, mas que eu falasse aos Amigos aqui reunidos.

E assim, embora o comício seja do Partido Comunista Português e eu seja um independente (na medida em que hoje se pode sê-lo), aceitei da Eng.ª Virgínia moura, que muito me honrou, pela pessoa que fez oconvite e também por se tratar de um comício do PCP.

É que o Partido Comunista Português, pelos seus 54 anos de resistência, pela liderança que tem exercido em tantos combates contra o fascismo e contra o imperialismo, pela sua capacidade de mobilização das massas populares, não é uma associação como outra qualquer, não é uma associação que pertença exclusivamente aos seus membros – o Partido Comunista Português é património do Povo Português!

E por isso mesmo, porque é património do Povo Português, porque emana do Povo, porque é o grande partido da resistência antifascista, sempre perseguido mas nunca destruído, é que, sempre que o Povo está em perigo, o PCP está com o Povo, atacando lá onde se encontram os opressores do Povo e os falsos amigos do Povo.

Foi assim durante os 48 anos de fascismo, foi assim no 28 de Setembro, foi assim no 11 de Março e será assim sempre que alguém pretenda impedir a marcha do Povo para a Democracia e para o socialismo, sempre que alguém, seja quem for, tente impedir que façamos da nossa terra, a Terra da Fraternidade, onde o Povo é quem mais ordena!

Por tudo isto, não é de estranhar que tantos democratas sem partido acompanhem o Partido Comunista Português, sobretudo em momentos como este, em que é essencial defender e fortalecer a unidade das forças democráticas, entre si e com o Povo e com o MFA, sobretudo neste momento em que estamos em vésperas de eleger deputados para a Assembleia Constituinte.

Num regime antidemocrático, uma Constituição somente existe para coonestar os privilégios da minoria dominante, dando, ao mesmo tempo, a ilusão de que tal minoria reconhece alguns direitos aos cidadãos. Cada alteração que se introduza na constituição, por iniciativa dessa minoria, destina-se essencialmente a reforçar ainda mais os seus privilégios, isto é, aumentar a opressão e exploração do Povo.

Num regime pré – democrático, em que foram já conquistadas algumas liberdades democráticas, mas em que ainda quase todas as alavancas do poder económico continua nas mãos de uma minoria reaccionária, mais ou menos enfeudada ao imperialismo estrangeiro, é fundamental levar à Assembleia Constituinte cidadãos que, não só pelo seu passado de lutas pelas liberdades democráticas e pela Independência Nacional, mas ainda pelos agrupamentos políticos em que estejam integrados, dêem plenas garantias de que vão lutar por uma Constituição que consagre as liberdades alcançadas; uma Constituição que não permita a propaganda fascista nem proteja as bases económicas do fascismo; uma Constituição que defenda as boas relações com todos os Povos do Mundo e muito especialmente os Povos Africanos, os Povos do chamado terceiro mundo e os Povos do Mundo Socialista; uma Constituição, enfim, que seja um instrumento de luta pela Democracia e pela Paz, um instrumento de luta contra os monopólios e os latifúndios e contra o imperialismo.

Precisamos de uma constituição, Amigos, que seja digna de um Povo que sofreu a mais longa, a mais cruel e a mais reaccionária ditadura da História Contemporânea; uma Constituição digna de um Povo que, durante 48 anos, forjou nos subterrâneos da liberdade os novos e grandes dias que estamos vivendo e vamos viver!

Amigos de Rio Tinto!

Há 24 anos aqui estivemos para, na sequência de uma luta contra a revisão da Constituição promovida pelo fascismo (que pretendia, por meio dessa revisão, substituir uma Constituição reaccionária por ourtra mais reaccionária ainda), aqui estivemos para proclamar

RUY LUÍS GOMES À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA!

Hoje, neste mesmo lugar e para conseguirmos uma Constituição progressista, uma Constituição democrática que abra caminho para o Socialismo, nós proclamamos

VIRGÍNIA MOURA E SEUS COMPANHEIROS PARA A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE!

VIVA O PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS!

VIVA A UNIDADE DAS FORÇAS DEMOCRÁTICAS COM O MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS!

VIVA PORTUGAL!

José Morgado