terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O 70º Aniversário da Revolução de Outubro e a Luta pela Paz

O 70º Aniversário da Revolução de Outubro e a Luta pela Paz

O presente ano, em que se comemora o 70º aniversário da Revolução de Outubro, tem sido fértil em iniciativas a favor da Paz e da Cooperação entre os Povos, por parte da União Soviética e dos outros Estados Socialistas.

Não é de estranhar que assim aconteça, uma vez que, desde o seu início, a revolução de Outubro está ligada a acções positivas a favor da Paz. No próprio dia 25 de Outubro (7 de Novembro) de 1917, pelas 10 horas da manhã, o Comité Revolucionário do Soviete de deputados e soldados de Petrogrado (actualmente Leninegrado) fez a seguinte comunicação ([7], p. 480):

«Aos cidadãos da Rússia!

O Governo Provisório foi deposto. O Poder do Estado passou para as mãos do Comité Militar Revolucionário, que é um órgão do Soviete de deputados operários e soldados de Petrogrado e se encontra à frente do proletariado e da guarnição da capital.

Os objectivos pelos quais o povo tem lutado – a proposta imediata de uma paz democrática, a supressão da propriedade agrária dos latifundiários, o controlo operário da produção e a constituição de um Governo Soviético – estão assegurados.

Viva a revolução dos operários, soldados e camponeses!»

Nessa mesma manhã, este histórico documento apareceu no periódico “O Operário e o Soldado” e foi entregue a outros jornais para publicação.

Ainda nesse mesmo dia, pelas 22h40, inaugurou-se o II Congresso dos Sovietes de deputados operários e soldados de toda a Rússia. Dos 649 delegados presentes, 390 eram bolcheviques. Estiveram representados 318 sovietes provinciais e os delegados de 241 Sovietes levaram ao Congresso mandatos bolcheviques. Os mencheviques e alguns outros delegados abandonaram o Congresso depois da sua abertura, por se negarem a reconhecer a revolução socialista.

O Congresso aprovou um apelo dirigido aos operários, soldados e camponeses, redigido por Lenine, em que se anunciava que «o Poder dos Sovietes proporá imediatamente uma paz democrática a todos os povos e um armistício em todas as frentes», além de, naturalmente, proclamar que «assegurará a passagem, sem indemnização, da terra dos latifundiários, das terras da Coroa e dos conventos para os comités camponeses; defenderá os direitos do soldado levando a cabo a completa democratização do exército; implantará o controlo operário sobre a produção; assegurará a reunião Assembleia Constituinte no prazo acordado; preocupar-se-á com o abastecimento de pão às cidades e dos artigos de primeira necessidade ao campo e garantirá o verdadeiro direito de autodeterminação a todas as nacionalidades que constituem a Rússia.» ([8], p. 483).

Numa intervenção nesse Congresso, Lenine declara ([9], p. 485):

«O Governo considera a paz imediata, sem anexações (quer dizer, sem conquistas de territórios alheios, sem incorporação de povos estrangeiros pela força) nem contribuições, como uma paz justa e democrática, pela qual anseia a esmagadora maioria dos operários e das classes trabalhadoras de todos os países beligerantes, esgotados, atormentados e martirizados pela guerra, a paz que os operários e camponeses russos têm reclamado do modo mais categórico escrevia

E mais adiante, Lenine esclarece:

«O Governo declara ao mesmo tempo que de modo algum considera como ultimatum as condições de paz antes indicadas, isto é, que está disposto a examinar quaisquer outras condições de paz, insistindo unicamente em que sejam apresentadas o mais rapidamente possível por qualquer país beligerante e estejam redigidas com toda a clareza, sem nenhuma ambiguidade e sem cláusulas secretas

Assim, a defesa da paz entre os povos e a proposta de resolução dos conflitos entre os estados por negociações não resultam de uma atitude conjuntural dos actuais dirigentes da União Soviética; de facto, proclamada a criação do estado multinacional União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 30 de Dezembro de 1922, vemos que tais princípios – a defesa da paz entre os povos e a resolução dos conflitos por negociações – eram já defendidos pelos dirigentes da Revolução de Outubro.

Três anos antes da Revolução de Outubro, em Setembro de 1914, no trabalho intitulado “Teses sobre a Guerra”, Lenine escrevia ([6], p. 284):

«A guerra europeia e mundial reveste indubitavelmente o carácter de uma guerra burguesa, imperialista, dinástica. Uma luta pela posse dos mercados e pelo saque dos países, esforços que visam iludir, dividir, esmagar os proletários de todos os países, levantando os escravos assalariados de uma nação contra os de outra para lucro da burguesia: é isto que constitui o único conteúdo real e o objectivo da guerra.»

Caracterizando desta forma a guerra europeia e mundial, não admira que logo na primeira proclamação dirigida “Aos cidadãos da Rússia”, após a tomada do poder, se aponte, entre os primeiros objectivos a alcançar, “a proposta imediata de uma paz democrática”.

O primeiro decreto do Poder Soviético foi precisamente o Decreto da Paz, aprovado, por unanimidade, pelo II Congresso dos Sovietes de deputados operários e soldados de toda a Rússia. O segundo decreto do Poder Soviético foi o Decreto sobre a terra, que o Congresso aprovou também por unanimidade.

*

Esta posição de princípio a favor da paz e cooperação entre os povos, que tem distinguido a política exterior da União Soviética, só pode ter sido reforçada pela prática de destruições, roubos e crimes contra a humanidade que, durante a segunda guerra mundial, caracterizou a política nazi nas regiões ocupadas, especialmente nos países do Leste europeu.

Os chefes nazis praticaram sistematicamente uma política de extermínio cuja violência e crueldade era tanto maior quanto mais pesadas eram as derrotas que iam sofrendo no plano militar ([11], t. II, p. 13). Conforme se aponta num relatório da Comissão de Pesquisa dos Crimes da Grande Guerra ([11], t. II, p. 60 – 61),

«O número de vinte e seis milhões representa aproximadamente o total de seres humanos, prisioneiros de guerra e prisioneiros políticos (homens, mulheres, crianças de todas as idades e de todas as nacionalidades), que os Alemães fizeram morrer de fome, de frio, de doenças, de torturas, de experiências médicas e de outros meios de extermínio, em todos os campos da Alemanha e dos países ocupados.

Só no campo de Auschwitz foram exterminadas cinco milhões de pessoas

Dos duzentos e cinquenta mil deportados franceses só regressaram trinta e seis mil.»

O acusador francês no Julgamento de Nuremberga, François de Menthon, (Id., p.60):

«As habituais condições de vida impostas aos deportados nos campos eram bastantes para assegurar um lento extermínio: pela alimentação insuficiente, a péssima higiene, a brutalidade dos guardas, o rigor da disciplina, a fadiga proveniente de um trabalho desproporcionado em relação ao vigor dos detidos e um serviço médico incoerente. Sabeis já que muitos não morriam de morte natural: eram exterminados com injecções, com a câmara de gás ou até com a inoculação de doenças mortais.

Mas os meios de extermínio rápido eram frequentes. Por vezes era provocado pelos maus tratos; duches gelados colectivos, no Inverno, ao ar livre; prisioneiros abandonados nus, sobre a neve; pendurados pelos pulsos; bastonadas; mordedura de cães - polícias …»

Do balanço sinistro que o acusador soviético, General Rudenko, apresentou no Julgamento de Nuremberga, consta o seguinte ([11], t. II, p. 119, [5], p. 258):

«Os invasores germano – fascistas destruíram e incendiaram, parcial ou completamente, mil setecentos e dez cidades e mais de setenta mil aldeias ou lugares. Destruíram ou incendiaram mais de seis milhões de prédios e privaram de abrigo mais de vinte e cinco milhões de pessoas. Entre as cidades destruídas e que mais sofreram encontram-se grandes centros industriais e culturais: Estalinegrado, Sebastopol, Leninegrado, Kiev, Minsk, Smolenks, Novgorod, Pskov, Orel, Karkhov, Voronej, Rostov do Don e muitas outras.

Os invasores germanos – fascistas destruíram trinta e uma mil oitocentas e cinquenta empresas industriais, nas quais trabalhavam perto de quatro milhões de operários. Destruíram ou levaram duzentos e trinta e nove mil motores eléctricos e cento e setenta e cinco mil máquinas – ferramentas.

Os alemães destruíram setenta e cinco mil quilómetros de vias férreas, quatro mil e cem estações de caminhos de ferro, trinta e seis mil estações de correios, centrais telefónicas e outros meios de comunicação. Os alemães destruíram ou devastaram quarenta mil hospitais e outros estabelecimentos sanitários, oitenta e quatro mil escolas, instituições profissionais, universidades, institutos de pesquisa científica e quarenta e três mil bibliotecas públicas. Os nazis destruíram ou pilharam noventa e nove mil kolkhoses, mil oitocentos e setenta e seis sovkhoses e dois mil oitocentos e noventa depósitos de tractores, roubaram ou expediram para a Alemanha sete milhões de cavalos, dezassete milhões de bovinos, vinte e sete milhões de carneiros e de cabras, cento e dez milhões de aves.»

Pelo que respeita à perda de vidas humanas, sabe-se ([19], p. 18 e [20] p. 3) que só na Europa cerca de 50 milhões de pessoas foram mortas. Deste número, couberam à União Soviética 20 milhões de vítimas, à polónia 6 milhões, à Jugoslávia 1,7 milhões, à França 600 000 mil e à Grã-Bretanha 375 000. Onze milhões de homens foram mortos nos campos de concentração. Os comandos fascistas da SS e comandos da morte do exército assassinaram 7 milhões de homens na União Soviética e 4,7 milhões de homens na Polónia. Na Alemanha, dos 300 000 membros que o Partido Comunista da Alemanha tinha quando Hitler subiu ao Poder, os fascistas assassinaram 30 000, perseguiram, encarceraram ou forçaram à emigração outros 150 000. De 1937 a 1945 foram executados 17 420 antifascistas e 25 000 soldados e oficiais alemães. O terror fascista, inicialmente tinha se dirigido sobretudo contra os comunistas, mas mais tarde vitimou também outros sectores populares; só a grande burguesia e seus cúmplices foram poupados às consequências do terror organizado do Estado.

Parece fácil compreender a razão desta excepção; é que, em 4 de Janeiro de 1933, o banqueiro de Colónia Curt von Schroeder comprometeu-se a financiar as despesas eleitorais do partido nazi. Como se refere em [13], p. 799, estabeleceu-se ma espécie de pacto entre o nazismo e a grande indústria: Hitler abria mão de algumas medidas do seu programa que pudessem parecer de carácter socializante, medidas que lá figuravam exactamente para que pudessem ser tomadas pelos operários menos esclarecidos como medidas socialistas e para justificar a expressão “socialista” na designação “partido nacional-socialistas”. Embora tais medidas não se destinassem a ser cumpridas, naquilo que pudessem ter de progressista, incomodavam mesmo assim, só por figurarem no programa do partido, o grande capital e, por isso, o grande capital se dispunha a pagar as despesas eleitorais dos nazis mediante a garantia de que seriam salvaguardados os interesses das poderosas empresas fabris, sob um regime autoritário decidido ao rearmamento e á repressão. Enfim, as tais medidas de carácter vagamente socializante cumpriram a função que lhes estava destinada com a sua inclusão no programa do partido nazi. E a verdade é que tão bem se entenderam Hitler e grande capital que a aliança entre um e o outro durou o tempo todo em que Hitler esteve no poder.

Na verdade, já antes de 4 de Janeiro, antes mesmo de 1930, tinha havido reuniões entre Hitler e industriais influentes que não só apoiavam, subsidiavam e forneciam pareceres aos dirigentes nazis, como até recrutavam adeptos – fritz Thissen, Emil Kirdori, hugenberg e outros – que preparavam as eleições de Setembro de 1930, em que os nazis obtiveram resultados positivos.

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Parece claro que a formação do Estado terrorista pelos nazis, política de destruição e violência praticada nos países e territórios ocupados, os crimes de genocídio programados e executados com preocupações de rigor contra grupos étnicos previamente rotulados como pertencentes a raças inferiores, só poderia ser levada a efeito mediante uma distorção total da acção educativa, mediante o domínio total dos órgãos de informação, mediante uma força repressiva suficientemente desumanizada, ignorante e prezando a ignorância como valor.

Hitler ocupou-se longamente em Mein Kampf de problemas do ensino ([2], p.45). Declara que, “do ponto de vista da raça, a educação encontra o seu coroamento no serviço militar”; condena que milhões de pessoas estudem, “até duas ou três línguas estrangeiras, que em seguida utilizarão muitíssimo pouco”; proclama que “o estado racista reconduzirá o ensino geral das ciências a uma forma resumida que apenas conservará o essencial”. Ao escritor Hermann Rauschinigg, Hitler declarou uma vez que queria “uma juventude brutal, imperiosa, impávida e cruel” ([12], p. 66).

A sua política de ensino, a sua política de formação de quadros está naturalmente orientada para conseguir uma juventude brutal, imperiosa, impávida e cruel, porque era de tal juventude que ele julgava precisar para levar por diante a sua política de opressão, destruição e morte dos seus adversários políticos.

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Segundo os números apontados anteriormente, o país que mais terá sofrido com a guerra, a seguir à União Soviética, foi a certamente a Polónia. Como refere Miguel Urbano Rodrigues, no seu livro “Polónia e Afeganistão” (pp. 94 – 95),

«Grande potência no período áureo do Renascimento, a Polónia, ocupada e oprimida durante mais de 130 anos, não perdeu em momento algum a esperança. Mas não é fácil em Portugal avaliar a natureza complexa e messiânica da esperança num país que vinte anos depois de recuperar a independência foi submetido ao genocídio cientificamente executado pelo III Reich. Nestes tempos em que o revanchismo dos governantes de Bona volta a manifestar-se com arrogância, é oportuno recordar que já em Março de 1939 Hitler incumbia o general von Brauchitsch de se “ocupar do problema da Polónia”, a qual deveria ser “completamente destruída”. Plano final previa o extermínio de milhões de polacos e a deportação de 85% dos sobreviventes para a Sibéria. “Os campos da Polónia” escrevia então o ideólogo fascista Alfred Rosenberg “devem ficar livres para as charruas dos camponeses germânicos.»

De acordo com informações colhidas na “Encyclopaedia Britannica”, os alemães anexaram ao Reich a parte dos territórios ocupados incluíam Poznan, Gdynia, Bydgoszcz, Katowice, Lodz e Plock, enquanto a parte restante, abrangendo quatro distritos (Cracóvia, Varsóvia, Lublin e Radom), ficou na dependência de um governador-geral, Hans Frank, residente em Cracóvia. Cerca de um milhão de Polacos e Judeus foram deportados dos territórios anexados para os territórios que ficaram na dependência do governador-geral. Parte da população foi deportada para a Alemanha para trabalhos forçados ou concentrada em “reservas” especiais. Com os Judeus, foram deportados principalmente residentes nas cidades. A população polaca que foi deixada, principalmente em Pormoze e Silésia, foi sujeita a uma política de germanização. As terras anexadas ao Reich eram colonizadas por mais de 700 000 Alemães.

Sob o governador-geral, a administração estava em mãos alemãs.

Escolas secundárias polacas e instituições de ensino superior foram encerradas. O ensino da História Polaca e História da Literatura Polaca foram proibidos nas escolas primárias. No entanto, educação clandestina foi conduzida em todos os níveis.

Um matemático que participou activamente na educação clandestina foi Juliusz Rudnicki ([18], pp. 268 – 271). Tendo leccionado na Universidade e na Escola politécnica de Varsóvia, foi nomeado em 1923 professor ordinário da Universidade de Wilno, onde permaneceu até ao desencadear da guerra, em 1939. Durante os dois primeiros nãos de guerra ainda ensinou Matemática nos Liceus. A ocupação alemã forçou – o a ganhar a vida como guarda-nocturno, mais tarde como escriturário. Ao mesmo tempo ensinava Geometria Analítica nos cursos clandestinos da Resistência. Publicou mais de 20 trabalhos de investigação e divulgação matemática.

A perseguição aos polacos começou logo nos primeiros dias da ocupação nazi. Em 27 de Dezembro de 1939 houve execuções em massa de civis polacos em Wawer, próximo de Varsóvia. Em Novembro de 1939, dúzias de professores da Universidade de Cracóvia foram enviados para campos de concentração, onde muitos deles perderam a vida. Em Junho de 1940, destacados líderes políticos foram fuzilados. Em Julho de 1941, na cidade de Lvov, 21 professores da Universidade e da Escola Superior de Engenharia foram fuzilados. Outras Escolas Superiores de Lvov tiveram também neste dia as suas vítimas.

Só neste dia houve em Lvov 31 fuzilamentos de professores.

Os matemáticos polacos – honra lhes seja! – souberam ocupar o seu lugar ao lado do povo contra o invasor nazi!

O volume XXXIII da revista polaca “Fundamenta Mathematica” foi dedicado á memória dos colaboradores das revista, vítimas da guerra ([17], p. V),

- Herman Auerbach, da Universidade de Lvov, morto pela Gestapo, em Lvov, no verão de 1943.

- Antoni Hoborski, antigo Reitor da Academia das Minas de Cracóvia, morto em 1940 no campo de concentração de Sachenhausen, para onde foi em Novembro de 1939 com outros professores da Universidade de Cracóvia, dos quais 15 foram mortos neste campo.

- Stefan Kaczmarz, da Universidade de Lvov, morto no Outono de 1943.

- Stefan Kempisty, da Universidade de Wilno, morto na prisão em Agosto de 1940.

- Andrej Kozniewski, doutor em matemática, morto em Zbaraz, em Dezembro de 1939.

- Adolf Lindenbaum, da Universidade de Varsóvia, morto pela Gestapo em Nova Wilejka, no verão de 1941.

- Antoni Lomnicki, da Escola politécnica de Lvov, fuzilado pela Gestapo em Lvov, em Julho de 1941, com mais 30 professores das Escolas Superiores de Lvov.

- Jósef Pepis, doutor em matemática, da Universidade de Lvov, morto pela Gestapo em Agosto de 1941.

- Aleksander Rachman, da Universidade Livre de Varsóvia, morto no campo de concentração de Dechau em 1940.

- Stanislaw Ruziewicz, Reitor da Academia de Comércio de Lvov, antigo professor da Universidade de Lvov, fuzilado pela Gestapo em Lvov, fusilado pela Gestapo em Lvov, em Julho de 1941.

- stanislaw Saks, da Universidade de Varsóvia, morto pela Gestapo em Varsóvia em Novembro de 1942.

- juliusz P. Schauder, da Universidade de lvov, morto pela Gestapo em Lvov, em Setembro de 1943.

- Wlodzimierz Stozek, da Escola Politécnica de Lvov, fuzilado pela Gestapo em Lvov, em Julho de 1941.

- Witold Wilkosz, da Universidade de Cracóvia, morto em Cracóvia, em Março de 1941.

- Józef Zalowasser, da Universidade Livre de Varsóvia, morto nas câmaras de gás de Treblinka, em Janeiro de 1943.

- E vários outros, de que ainda se ignora a sorte e a data da morte.

*

No período de 12 a 14 de Dezembro de 1946, realizou-se em Wroclaw IV Congresso Polaco de Matemática. Uma sessão do Congresso foi dedicada à memória dos matemáticos Polacos vítimas da guerra. O Presidente da Sociedade Polaca de Matemática, E. kuratowski, nas palavras que pronunciou na abertura da sessão, lembrou que o país tem a deplorar a morte de pelo menos 56 matemáticos, isto é, cerca de dois terços das suas forças científicas activas em diversos domínios das matemáticas ([18], p. 156).

Os matemáticos Polacos, apesar de terem perdido cerca de dois terços dos seus companheiros de trabalho, apesar de lhes terem incendiado quase todas as suas bibliotecas, de lhes terem destruído quase todas as suas tipografias, apesar de lhes terem incendiado quase todas as suas notas de trabalho, apesar de estarem durante tanto tempo impedidos de contactar regularmente com os seus colegas de outros países e do seu próprio, não desanimaram e lançaram-se ao trabalho de formação e actualização das suas bibliotecas, de reconstituição e actualização dos seus cursos , de publicação das suas revistas de matemática e criação de novas revistas, de refazer os seus contactos com matemáticos dos outros países.

Enfim, os matemáticos Polacos resolveram viver, assumindo plenamente a sua condição de cientistas e cidadãos.

Pelo seu valor simbólico, vamos transcrever alguns trechos do discurso proferido pelo Reitor S. Kulezynski, da Universidade e da Escola Politécnica de Wroclaw, em 9 de Junho de 1946:

«(…) É porque o nosso primeiro pensamento se dirige para a manhã memorável de 4 de Julho de 1941 em Lvóv, onde teve lugar a sessão pública das Escolas Superiores desta cidade, sessão sangrenta e profundamente ligada pelo seu conteúdo à que nós celebramos hoje. As Escolas Superiores de Lvóv encontraram-se naquele dia não sobre o podium de um grande auditório, mas diante da parede de uma saibreira dos subúrbios; não em face das autoridades e dos representantes da nação polaca, mas perante as autoridades e os representantes danação alemã. Desta festa, o gerente foi Himmler e o executor – o alemão Otto kruger, então chefe da Gestapo de Lvóv, mais tarde o assassino de 250 professores primários de escolas de Stanislawow. Apesar do tempo decorrido, nós lembramo-nos bem. Nós vemos abater-se sobre os joelhos e desmoronar-se para o fosso o último reitor de Lvóv, Romain Longschampa, com seus três filhos, o decano Ostrowski com sua mulher, o decano Rencki e o cirurgião Dobrzaniecki, o médico Grek e sua mulher, o octogenário Solowij e o seu neto Miçsowicz, o pediatra Progulski e o seu filho, ………………………………………………………………………………………………

O acto de liquidação da Universidade e da Escola Politécnica de Lvóv teve lugar no terceiro dia após a entrada do exército alemão nesta cidade. No terceiro dia após a derrocada da resistência alemã pelo exército soviético, um grupo de homens entrava em Wroclaw para salvar o que restava das escolas e para preparar a organização da futura Universidade e da Escola Politécnica desta cidade …»

Não dúvida de que é muito grande a diferença de procedimento entre um exército de ocupação e um exército de libertação …

*

Atrocidades e crimes como os que foram referidos não podem voltar a acontecer, até porque, se voltasse a desencadear-se uma guerra mundial, os crimes e atrocidades seriam muito maiores; poderiam ser tão grandes que não sobrasse ninguém para os contar.

Faz hoje 42 anos que se cometeu o crime de Hiroshima.

Todos nós temos de, pela nossa acção, impedir que novo crime se cometa!

Não às armas nucleares! Não à guerra das estrelas!

Que o 70º aniversário da Grande Revolução de Outubro fique assinado pela realização de negociações visando o desarmamento nuclear e a seguir o desarmamento geral e controlado!

Nós temos o direito à Paz!

Porto, 6 de Agosto de 1987

REFERÊNCIAS

[1] BOYER, Carl, A History of Mathematics, John Wiley & Sons, Inc. New York, 1968.

[2] DAVID, Claude, Hitler et le Nazism, 6 ème éd. Que sais-je?, Nº 624, Press Universitaire de France, Paris, 1969.

[3] DEBORIN, G.,La Segunda Guerra Mundial, cuarta ed. Editorial Progresso, Moscu, 1977.

[4] DROZ, Jacques, Histoire de l’ Allemagne, Que sais-je?, Nº 186, Press Universitaire de France, Paris, 1948.

[5] KULKOV, E., O. Rjechevski, I. Tchelichev, A Verdade e a Mentira sobre a Segunda Guerra Mundial, edições Avante!, Lisboa, 1984.

,Sociales, Paris, Éditions en Langues Étrangères – Moscou, 1974.

[7] LENINE, V. I., A los Ciudadanos de Rusia!, Obras Escogidas, t. 2, p. 480, Editorial progresso, Moscú, 1960.

[8] LENINE, V. I., A los Obreros, a los Soldados, a los Campesinos, Obras Escogidas, t. 2, pp. 483-484, Editorial progresso, Moscú, 1960.

[9] ] LENINE, V. I., Informe sobre la paz, 26 de Octubre (8 de Novembro)Obras Escogidas, t. 2, pp. 485-489, Editorial progresso, Moscú, 1960.

[10] MELNIKOV, D. L. Tchernaia, O Criminoso Nº 1, o regime nazi e o seu Fuehrer, edições Avante!, Lisboa, 1985.

[11] MICHEL, Bernard, (sob a direcção de …), Os Grandes Julgamentos da História – o Julgamento de Nuremberga, tomo I e II, Amigos do Livro, Editores, LDA, Lisboa.

[12] MICHEL, Henri, Les Fascismes, Que sais-je?, Nº 1683, Press Universitaire de France, Paris, 1977.

[13] PABÓN, J., L. de Sosa, J. L. Comellas, Historia Contemporânea General, Editorial Labor, S. A., Barcelona, 1970.

[14] POLIAKOV, I., V. Leltchuk, A, Protopópov, História da Sociedade Soviética, Breve ensaio de divulgação, segunda edição completada, tradução de António pescada, Edições progresso, Moscovo, 1979.

[15] RODRIGUES, Miguel Urbano, Polónia e Afeganistão, o cerco imperialista e a contra informação, Editorial Caminho, Lisboa, 1983

[16] Encyclopaedia Britannica , vol. 18, Verbete Poland, U.S.A., 1966

[17] Fundamenta Mathematica, t. XXXIII (1945)

[18] Colloquium Mathematicum, I (1948)

[19] O fruto de duros anos, A libertação do imperialismo e do fascismo e a viragem revolucionária e democrática de 1945 a 1949, Panorama DDR, Berlim.

[20] O respeito pelo legado da resistência antifascista, Verlag Zeit im Bild, Dresden.

José Morgado

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